VIDA ECUMÊNICA EM JERUSALÉM



De Jerusalém Jesus enviou os apóstolos para serem suas testemunhas “até as extremidades da terra” (At 1,8). Em sua missão, eles encontraram muitas e ricas línguas e civilizações e começaram a proclamar o Evangelho e a celebrar a Eucaristia nessas muitas línguas. Como conseqüência, a vida cristã e a liturgia adquiriram muitas faces e expressões que se enriquecem e se completam mutuamente. Desde os primeiros tempos, todas essas tradições e Igrejas cristãs queriam estar presentes juntas na Igreja local de Jerusalém, o berço da Igreja. Elas sentiam a necessidade de ter uma comunidade orante e servidora na terra onde a história da salvação se desenvolveu, ao redor dos lugares onde Jesus viveu, exerceu seu ministério e sofreu sua paixão, entrando assim no mistério pascal da morte e ressurreição.
Desse modo a Igreja de Jerusalém se tornou uma imagem viva da diversidade e riqueza das muitas tradições cristãs do Oriente e do Ocidente. Cada visitante ou peregrino em Jerusalém é, em primeiro lugar, convidado a descobrir essas variadas e ricas tradições.
Infelizmente, no curso da história e por várias razões, essa bela diversidade também se tornou uma fonte de divisões. Essas divisões são ainda mais dolorosas em Jerusalém, já que foi nesse mesmo lugar que Jesus orou “para que eles sejam um” (João 17,21), foi ali que ele morreu “para reunir na unidade os filhos de Deus que estão dispersos” (João 11, 52) e ali aconteceu o primeiro Pentecostes. No entanto, ao mesmo tempo, é preciso dizer que nem uma só dessas divisões teve sua origem em Jerusalém. Elas foram todas trazidas a Jerusalém por Igrejas já divididas. Como conseqüência, quase todas as Igrejas do mundo inteiro têm sua parte na responsabilidade pelas divisões na Igreja de Jerusalém e portanto são também chamadas a trabalhar pela unidade junto com as Igrejas locais.
Atualmente, há em Jerusalém treze Igrejas com um ministério episcopal: a Igreja Ortodoxa Grega, a Igreja (Católica) Latina, a Igreja Apostólica Armênia, a Igreja Síria Ordodoxa, a Igreja Ortodoxa Copta. A Igreja Ortodoxa Etíope, a Igreja Católica Grega (Melquita), a Igreja (Católica) Maronita, a Igreja Católica Síria, a Igreja Católica Armênia, a Igreja (Católica) Caldéia, a Igreja Episcopal Evangélica e a Igreja Evangélica Luterana.
Além disso, um número considerável de outras Igrejas ou comunidades estão presentes em Jerusalém e na Terra Santa: presbiterianos, reformados, batistas, evangélicos, pentecostais etc.
Ao todo, os cristãos na Palestina e Israel são cerca de 150.000 a 200 000, constituindo entre 1 a 2 % da população total. A grande maioria desses cristãos são palestinos de idioma árabe, mas em alguma Igrejas há também grupos de fiéis que falam hebraico e pretendem ser uma presença cristã e um testemunho da sociedade israelita. Além disso, há também as chamadas Assembléias Messiânicas, que podem representar cerca de 4 a 5 mil crentes, mas não costumam ser incluídas na contagem da presença cristã.
Para o desenvolvimento recente das relações ecumênicas em Jerusalém, a peregrinação do Papa Paulo VI à Terra Santa, em janeiro de 1964, continua sendo um marco. Seus encontros, em Jerusalém, com os Patriarcas Athenagoras de Constantinopla e Benedictos de Jerusalém sinalizam o começo de um novo clima nas relações inter eclesiais. A partir desse ponto, as coisas começaram a ir por um novo caminho.
O próximo passo importante se deu durante a primeira “intifada” palestina no fim dos anos 80. No meio de um clima de insegurança, violência, sofrimento e morte, as lideranças das Igrejas começaram a se encontrar para refletir juntas sobre o que poderiam e deveriam dizer e fazer em conjunto. Decidiram publicar mensagens e declarações em comum e tomar algumas iniciativas conjuntas em prol de uma paz justa e duradoura.
Desde esse tempo, a cada ano as lideranças das Igrejas em Jerusalém publicam uma mensagem comum na Páscoa e no Natal, bem como declarações e mensagens em algumas ocasiões especiais. Duas declarações merecem especial destaque. Em novembro de 1994, as lideranças das treze Igrejas assinaram um memorando comum sobre o significado de Jerusalém para os cristãos e sobre os direitos que daí resultam para as comunidades cristãs.
Daí em diante, se encontraram regularmente, quase todos os meses. Publicaram uma segunda declaração atualizada sobre o mesmo assunto em setembro de 2006.
Até agora, a abertura ecumênica do terceiro milênio na Praça da Manjedoura em Belém, em dezembro de 1999, permanece como a expressão mais significativa dessa nova peregrinação ecumênica em comum. Foi então que as lideranças e fiéis das treze Igrejas, junto com peregrinos vindos do mundo inteiro, passaram a tarde juntos, cantando, lendo a Palavra de Deus e orando em conjunto.
Em 2006, a criação do Centro Inter Eclesial de Jerusalém, em colaboração com as Igrejas locais, com o Conselho Mundial de Igrejas e o Conselho de Igrejas do Oriente Médio, é outra expressão da crescente colaboração entre as Igrejas locais e dos fortes laços entre elas e as Igrejas do mundo inteiro. É ao mesmo tempo um instrumento a serviço desse crescimento ecumênico.
O Programa de Acompanhamento Ecumênico na Palestina e Israel foi iniciado em 2002, em coordenação com as Igrejas locais e o CMI. Envolve voluntários que vêm de Igrejas do mundo inteiro com o objetivo de colaborar com israelitas e palestinos para aliviar as conseqüências do conflito, e para acompanhá-los nos lugares onde há confrontação. Essa iniciativa configura outro poderoso instrumento para o fortalecimento dos laços de solidariedade, tanto na Terra Santa como com as Igrejas de onde vêm os voluntários.
Muitos outros grupos ecumênicos informais existem em Jerusalém. Um deles, o Círculo Ecumênico de Amigos, que se encontra uma vez por mês, tem coordenado a celebração anual da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos em Jerusalém por cerca de 40 anos. A cada ano, isso constitui um evento marcante na vida das Igrejas.
O diálogo inter religioso em Jerusalém, cidade considerada sagrada por judeus, cristãos e muçulmanos, tem também amplas repercussões ecumênicas, graças aos membros de diferentes Igrejas que trabalham nisso muito unidos. Juntos, nesse diálogo, eles vivenciam a experiência da necessidade de superar desentendimentos e controvérsias do passado para encontrar uma nova linguagem comum que possibilite dar testemunho de uma única mensagem evangélica numa atitude de respeito mútuo.
Para os fiéis cristãos da base, na Palestina e Israel, ecumenismo faz parte da vida diária. Sua experiência constante mostra que a solidariedade e a colaboração têm importância vital na sua presença como pequena minoria no meio da maioria de crentes de outras religiões monoteístas. Escolas, instituições e movimentos cristãos espontaneamente trabalham juntos, cruzando as fronteiras entre as Igrejas, oferecendo um serviço comum e dando testemunho em conjunto. Casamentos entre pessoas de Igrejas diferentes têm se tornado uma realidade geralmente aceita e podem ser encontrados em quase todas as famílias.
Como conseqüência, há partilha mútua de alegrias e tristezas, no meio de uma situação de conflito e instabilidade, chegando até aos irmãos e irmãs muçulmanos, com quem partilham a mesma língua, a mesma história, a mesma cultura e com os quais são chamados a construir juntos um futuro melhor. Juntos estão dispostos a colaborar com fiéis muçulmanos e judeus na preparação de caminhos para o diálogo e para uma justa e duradoura paz num conflito em que a religião tem sido muito frequentemente usada até de modo abusivo. Em vez de ser parte do conflito, a verdadeira religião é chamada a ser parte da solução.
É também significativo perceber que a Igreja em Jerusalém continua a viver num clima político que é, de muitas maneiras, semelhante à vida da primeira comunidade cristã.
Cristãos palestinos têm se tornado uma pequena minoria que enfrenta sérios desafios que ameaçam seu futuro de muitas maneiras, enquanto anseiam por liberdade, dignidade humana, justiça, paz e segurança.
No meio de tudo isso, os cristãos das Igrejas de Jerusalém se dirigem a seus irmãos e irmãs do mundo inteiro nesta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos para orar com eles e por eles, para que atinjam suas aspirações por liberdade e dignidade e pelo fim de todas as espécies de opressão humana. A Igreja ergue sua voz em oração a Deus em antecipação e esperança, por si mesma e pelo mundo para que todos possamos ser um em nossa fé, nosso testemunho e nosso amor.


extraído do texto base da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2011

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