Papa João Paulo II, “um polonês que foi universal”


Fala o postulador da causa do Papa polonês

A beatificação de João Paulo II será um grande evento para a Polônia, mas também para o resto do mundo, pois este Pontífice sabia conjugar um grande amor por sua pátria pequena com uma abertura universal. Isto foi afirmado por Monsenhor Slawomir Oder, postulador da causa de beatificação de João Paulo II. Mas, com a celebração de 1º de maio, não termina o trabalho do Pe. Oder, pois, como explicou a ZENIT, ele tem o mandato do cardeal vigário, Agostino Vallini, também para preparar a canonização. ZENIT: O senhor se sente sem trabalho agora, ou ainda continuará a causa de canonização, com um milagre já reconhecido?

Mons. Oder: Como comentei, este trabalho de postulação se une outras coisas, então não acho que fico sem trabalho. Em todo caso, sim, agora está em andamento toda a preparação do evento da beatificação que, é claro, envolve também a figura do postulador em alguns aspectos. Além disso, a indicação que recebi do cardeal vigário é o mandato para o processo de beatificação e canonização. E isso significa que a etapa da beatificação foi atingida. Este primeiro momento terminou, mas o processo continua até sua conclusão, com a canonização.

ZENIT: No que diz respeito à beatificação, de que forma um cristão pode se preparar para este acontecimento?

Mons. Oder: Com certeza, este tempo do processo de beatificação, para mim pessoalmente foi um tempo de exercícios espirituais, que me permitiu enfrentar tanto as razões da minha fé como o entusiasmo da minha resposta ao chamado do Senhor a ser sacerdote, porque foi um encontro maravilhoso com o exemplo de um sacerdote realizado, pleno, feliz, que deu sua vida por Cristo e pela Igreja. E eu acho que este tempo que temos à disposição agora, que felizmente coincide com a Quaresma, é um tempo para trilhar o nosso caminho espiritual, o nosso caminho de conversão, o nosso caminho de aprofundamento da fé e do amor por Cristo, para viver verdadeiramente uma experiência particular com a Páscoa do Senhor, que, de alguma forma, continuará neste acontecimento da beatificação, porque, além disso, afinal, a Páscoa do Senhor é a referência para a vida de todos os cristãos e deve realizar-se na vida de cada um de nós. É a conclusão da vida cristã: esta Páscoa feliz é precisamente alcançar a santidade, chegar ao céu. Podemos dizer, portanto, que neste ano, realmente, temos a sorte de viver a Quaresma olhando para a Páscoa do Senhor. É um testemunho esplêndido desta Páscoa.

ZENIT: Foi falado dessa herança espiritual do Papa, que é a misericórdia. Mas se define pouco o que é a misericórdia ou como ele a concebia?

Mons. Oder: São tantas as intervenções em que ele falava justamente sobre este aspecto da misericórdia, da magnanimidade, da capacidade de imitar a grandeza do amor de Deus que se inclina diante do homem fraco e frágil... Ele mesmo dizia que o perdão - isso foi escrito na carta que ele pretendia publicar, a carta aberta a Ali Ağca após o atentado, e que depois não foi publicada - é o fundamento de todo o verdadeiro progresso da sociedade humana. A misericórdia significa essencialmente a compreensão pela fraqueza, a capacidade de perdão. Significa também o compromisso de não tomar em vão a graça que Deus dá, mas, com própria vida, produzir frutos dignos de alguém que tem sido abençoado e revestido da misericórdia de Deus.

ZENIT: Ele via no perdão, portanto, também um instrumento político ou o motor da história?

Mons. Oder: Com certeza sim, porque ele tinha uma visão cristã da história, teológica, pela qual nem tudo é suscetível apenas de um mero cálculo econômico ou político; uma visão segundo a qual a compaixão, compreensão, arrependimento, perdão, acolhimento, solidariedade, amor se convertem nos elementos fundamentais para fazer uma verdadeira política de Deus.

ZENIT: A Polônia se sentiu órfã quando ele morreu. Agora que ele volta como beato, haverá algum impacto na Igreja polonesa?

Mons. Oder: Certamente, no que diz respeito à Polônia, não há nada a dizer, foi um marco na nossa história e é um momento forte agora, muito importante, mas João Paulo II não é um fenômeno polonês. E o extraordinário, que me impressionou muito, é que um elemento de fascínio de João Paulo II foi que não se envergonhava de falar da sua pátria, da sua própria história, de usar sua própria língua, de identificar-se também com a religiosidade popular da Polônia, de falar dos seus conterrâneos. No entanto, este homem que sentia tão fortemente a pertença à sua própria nação, também soube ser um dom para os outros, e João Paulo II é um dom para a humanidade. E não foi apenas a Polônia que chorou (primeiro se alegrou e depois chorou)... Basta pensar no México, mas não somente nele... no mundo inteiro! Ele foi verdadeiramente um dom para a humanidade. Sua grandeza é precisamente esta. Ainda permanecendo na sua própria identidade, ele soube dar um ar universal. E talvez por ter sido tão autêntico em seu amor por seu país, também deu um forte incentivo para que cada um possa reconhecer a sua própria identidade, sua história, suas raízes e, de alguma forma, levar esta riqueza dentro da realidade da humanidade, da Igreja, para criar uma cidade nova, um sentir-se todos filhos de Deus, sentir-se todos irmãos. O segundo aspecto que se refere propriamente à Polônia e que foi muito edificante para mim, foi o momento da eleição de Bento XVI; os fiéis poloneses na Praça de São Pedro - que tinham vindo em grande número para o funeral e que depois permaneceram, já que, durante esses anos, para nós, os poloneses, Roma tornou-se, como para João Paulo II, uma segunda casa - gritaram "Viva o Papa!" em italiano e polonês. E isso realmente me fez entender como havia amadurecido e crescido a fé dessas pessoas, dessa igreja, ao lado desse Papa que soube viver o seu ministério com uma personalidade tão forte, tão carismática e ainda foi capaz de dar o valor justo ao seu ministério com Pedro, Vigário de Cristo. Agora que ele já não está, a Igreja permanece, está Pedro, há um Papa novo, um Papa alemão.


ZENIT: Houve quem viu com receio a decisão de João Paulo II de instituir a Jornada Mundial da Juventude, pelas situações de promiscuidade que poderia haver entre os jovens?

Mons. Oder: Não havia receio por parte do Papa ou dos jovens que ainda pensavam de forma antiquada. Ele pensava de forma muito moderna. Ele era um sacerdote que sentia. Ele mesmo disse que o dom é um mistério, que o sacerdote não deve tentar estar sempre na moda, porque já está sempre na moda, e sempre atualizado, pois o que um sacerdote representa é Cristo, e Cristo é sempre o mesmo. Então, a novidade que um sacerdote traz é Cristo. E ele soube convocar esses jovens com base na novidade que é Cristo.

ZENIT: Depois, ele nos fez dormir nos corredores do Pontifício Conselho para os Leigos, pois não havia lugar para abrigar os jovens na primeira Jornada Mundial da Juventude, de 1985, com sacos de dormir diretamente no chão, sob os afrescos...

Mons. Oder: Quem teria pensado de uma revolução desse tipo? Mas isso é o que foi visto desde o primeiro dia, no início de seu pontificado, quando ele levantou a cruz, contra todos os protocolos, quando se aproximou das pessoas, contrariando toda tradição. Já se via essa novidade no dia da eleição, quando, do balcão, além da bênção, ele falou. Imagine a surpresa!

ZENIT: Será que os jovens que não conheceram João Paulo II nos perguntarão o que podemos dizer sobre ele?

Mons. Oder: Acho que serão os jovens da geração João Paulo II que falarão aos seus filhos desse pai, porque, efetivamente, a figura de João Paulo II era a personificação da paternidade. Ele era um pai, e as pessoas o amaram, lutaram com ele. Eu me lembro, acho que foi no México, de um encontro no qual o Papa teve um diálogo com os jovens, e perguntava: "Vocês renunciam à riqueza?", e eles respondiam: "Sim, nós renunciamos". "Renunciam à arrogância?", "Sim, nós renunciamos". E depois: "Renunciam ao sexo?", e eles gritaram: "Não, isso não!". Houve um diálogo, digamos, quase dialético, com os jovens, que também o amaram. Eles não aplicaram tudo, mas quiseram ouvir e, para mim, este é o mistério da sua paternidade. Não era só saber estar com eles, com os jovens, enquanto brincava com a bengala, quando se balançava com eles, quando cantava, quando seguravam suas mãos... Todos estes são gestos belíssimos. Mas a verdadeira paternidade que ele soube exercer estava em elevar o nível diante deles, porque um pai que ama seus filhos não se contentará com o fato de que jovens vivam na mediocridade, mas, conhecendo-os, saberá que têm um potencial, uma riqueza. Ele foi um pai. Não podia não exigir, não tentar, não querer, não incentivá-los. E ele fez isso. Eles nem sempre respondiam, mas sabiam que ele confiava neles, realmente apostava neles. E eu, pessoalmente, tive um pensamento que me marcou, que permaneceu comigo desde o primeiro encontro que tive com ele, quando veio para a Polônia e falou aos jovens do país. No ambiente cinzento do comunismo, sua visita foi o primeiro raio de luz. E então ele nos disse: vocês, jovens, devem esperar muito de vocês mesmos, mesmo quando ninguém espera nada de vocês. Vocês devem ser exigentes com vocês mesmos. E estas são palavras de um pai.


(Anita S. Bourdin e Sergio Mora)


in www.zenit.org

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