O pecado e sua dimensão ecológica


180. As criaturas foram chamadas à vida por Deus Criador por amor, num ato de doação de vida. E, mesmo envolvendo-as com sua presença, Deus respeita os seres criados em sua justa autonomia e liberdade. Esta condição é indispensável para que o homem e mulher, queridos e criados por Deus, também pudessem amar. O amor é também condição para que cumprissem a missão de cuidar da obra realizada pelo Criador, a qual exige doação e entrega. E não se pode simplesmente exigir isto de alguém, tal empenho requerido por Deus ao homem, passa por um coração que ama.
181. No entanto, esta mesma liberdade entrevia a possibilidade do pecado, ou do uso da liberdade para se negar a via do amor, cuja consequência é o rompimento da confiança em Deus e nos demais seres. “Ninguém pode hospedar a quem lhe traiu a confiança e ninguém permanece hospedado com alguém a quem ofendeu. O livre ato humano impossibilita a continuidade do shabbat: a festa é interrompida abruptamente”[1]. Em consequência o homem e a mulher vão se emancipar de Deus, ou passam a viver num estado de autonomia que implica separação de Deus e autoafirmação em si mesmos. Neste estado, já não acolhem o chamado de Deus para cooperarem com o seu projeto, e se fecham cada vez mais em um mundo próprio em descordo com a palavra do Criador. Neste sentido, vão conhecer uma degradação cada vez maior, como podemos vemos na sequência dos primeiros capítulos do livro do Genesis.
182. Na crise ambiental atual, fica patente o poder destruidor do pecado. É o mesmo poder que nega ou deturpa a relação dialógica com o Deus da Vida e do Amor, as relações entre homem e mulher bem como as outras relações entre os seres humanos (comunitárias, políticas, econômicas, etc.). É o mesmo poder mortífero cristalizado em estruturas sociais injustas e em modos de produção-consumo destruidores do meio ambiente. A alienação do ser humano em relação ao projeto de Deus sobre a humanização, manifesta-se na sociedade injusta e opressora e na utilização abusiva e destruidora da natureza.
183. Nessa visão integrada do ser humano, a salvação oferecida pelo Deus da revelação bíblica afeta o ser humano em todas as suas dimensões. O universo inteiro possui uma dimensão crística. A encarnação, vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo possuem um significado cósmico, totalmente universal. A libertação da natureza, manipulada abusivamente pelo ser humano, está incluída na libertação do pecado humano para a vivência da liberdade concretizada no amor-serviço. Inclui as relações responsáveis e solidárias com as outras criaturas. Hoje, fica cada vez mais claro que a salvação do ser humano é inseparável da salvação da criação toda (Rm 8, 19-23). O destino de ambos está intimamente unido.

Fonte: Texto Base da CF 2011

[1] BRUSTOLIN, L.A. e MACHADO, R.F. Um pacto pela terra – a crise ecológica. In TEOCOMUNICAÇÕES. Porto Alegre – Vol. 38, No. 160 – maio/agosto 2008.

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