Apontamentos bíblicos sobre a preservação da natureza


1.1. O nosso Deus é o Deus da vida
100. A Bíblia inicia mostrando a vitória de Deus sobre o caos, organizando o cosmos e revelando-se como doador da vida. Na primeira narração da criação (Gn 1-2, 4a), o Deus criador vai gerando a vida na “semana da criação”. Deus dá à terra o poder de gerar frutos, árvores, sementes, ervas e verduras (Gn 1, 12). O texto vai repetindo, a cada etapa: “E Deus viu que era bom”. Deus criou por meio de suas palavras todas as realidades, formando uma grande solidariedade cósmica[1], como vemos na narrativa dos cinco primeiros dias, na qual se integraram os animais selvagens, domésticos e pequenos do chão segundo suas espécies, e o ser humano, criados no sexto dia. E o texto diz “E Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom” (Gn 1, 31).
101. Podemos notar facilmente a harmonia entre os planos da realidade: o temporal expresso nos seis dias de trabalho e o espacial das realidades criadas nos seis dias, desde a primeira, a luz, até o ser humano de modo que é estabelecida uma unidade formada de coisas distintas que se entrelaçam.
102. Mas houve quem entendesse que o ser humano era dono absoluto do planeta porque o texto também diz: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai sobre os peixes do mar, as aves de céu e todos os animais que se movem pelo chão” (Gn 1, 28). No entanto, a leitura desta narrativa nos revela que o ser humano foi criado no sexto dia ao lado de outros animais como as feras dos bosques, animais domésticos e os répteis, os quais parecem superiores aos anteriormente criados (Gn 1, 23-25).
103. A palavra dominar vem do latim dominus, que significa “senhor”. Dominar significa exercer o senhorio sobre os demais, e este exercício do senhorio deve ser feito a partir do modelo de “Senhor” que é o próprio Deus. A narrativa da criação nos mostra como Deus exerce o senhorio em relação à natureza: ele a cria, ordena o seu crescimento e a sua evolução a fim de que ela possa trilhar um caminho de perfeição, garante a sua continuidade, cuida dela e a abençoa. Assim, o exercício do senhorio, ou a dominação, por parte do ser humano deve significar respeito à ação criativa divina, contribuir com o crescimento e a evolução da natureza em todas as suas dimensões, cuidado com o meio ambiente e fazer dele uma fonte de bênçãos, ou seja, de comunhão com ela e, a partir dela, harmonia interior, comunhão com as outras pessoas e caminho de conhecimento e estreitamento de relações com o próprio Criador.
104. Desse modo, o ser humano vai condividir o mesmo espaço com estes animais que foram criados ao seu lado. No texto bíblico acima, podemos notar que os animais da terra ganham autonomia e são colocados sobre o mesmo espaço em que se encontram os seres humanos. É evidente que há uma diferença fundamental entre seres os humanos e os animais, que é de ordem sobrenatural, pois os seres humanos foram criados à imagem e semelhança de Deus e receberam o seu sopro em suas narinas, mas enquanto seres naturais, eles se encontram unidos em um equilíbrio dinâmico, o que não concede a eles o direito de se utilizar da natureza segundo seus caprichos de modo a causar destruição e colocá-la em perigo[2].
105. Tendo em vista todos os problemas do meio ambiente, fruto de um processo desmedido da utilização dos bens do planeta, é oportuna uma reflexão acerca do mandato “enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem no chão” (Gn 1, 28). Para este intento, é fundamental compreender o significado de alguns verbos como: submeter e dominar.
106. O verbo submeter, em hebraico, kabash, no contexto da cultura semita tem como foco principal a terra e o seu cultivo, e o verbo dominar é tradução do hebraico radah, que possui o sentido de cultivar, organizar e cuidar. Assim, não é concedida ao ser humano, a posse em termos de senhorio em relação aos outros seres criados, pois a consideração destes verbos indica precisamente atitudes de cultivo, zelo e cuidado, próprias de um pastor que conduz suas ovelhas protegendo-as dos iminentes perigos[3]. O livro do Gênesis é claro quanto a isso ao afirmar que Deus colocou o ser humano no jardim para o cultivar e guardar (Gn 2, 15).
1.2. O lugar do ser humano na criação
107. O salmista, logo após indagar sobre o que é o ser humano, afirma, “o fizeste só um pouco menor que um deus, de glória e honra o coroaste” (Sl 8, 6). Dessa forma, indica que o ser humano foi criado de modo especialíssimo no reino da criação porque, mesmo sendo um ser integrante da natureza, a transcende, e essa transcendência, embora não tire do ser humano sua condição natural, traz outras implicações que dão sentido à natureza e gera responsabilidades em relação a ela. O primeiro relato da criação, no livro do Gênesis, expressa esta condição humana com a afirmação de que “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou” (Gn 1, 27).
108. Em um dos Documentos referenciais do Concílio Ecumênico Vaticano II, encontramos a seguinte interpretação dessa afirmação, “o homem foi criado à ‘imagem e semelhança de Deus’, capaz de conhecer e amar o seu criador, e por este constituído senhor de todas as criaturas terrenas, para as dominar e delas se servir, dando glória a Deus”[4]. O documento conciliar entende que o homem se encontra no centro da criação, inclusive utiliza o verbo dominar para caracterizar as suas relações com os demais seres da natureza. No entanto, o entende como um ser de relações, “Deus não criou o homem sozinho”, e “o homem por sua própria natureza, é um ser social”[5], e consequentemente, chamado à cooperação e à solidariedade para com seus irmãos e para e para com os seres da natureza. Pois, o texto diz para dominar e se servir das criaturas, dando glória a Deus, o que não é compatível com a atitude de um déspota que utiliza os bens da natureza até o seu esgotamento, provocando somente morte em relação aos seres da natureza. Certamente, esta leitura pode ser realizada, mesmo que na época da realização do Concílio as preocupações ecológicas fossem apenas incipientes.
109. Visando esclarecer ainda o entendimento desta concessão para que o homem domine, dada a singularidade de seu ser, imagem de Deus, outro verbo desta narrativa merece ser mencionado e analisado, é mashal (governar, presidir), que aparece em Gn 1, 16-18. Este verbo é utilizado para descrever um domínio como o exercido pelos astros que receberam a incumbência de presidir sobre o dia e a noite, marcando o ritmo da vida. Assim sendo, o ser humano é responsável pela vida, bem estar e integridade daqueles que estão sob seu domínio. O homem e a mulher, criaturas do sexto dia, imagem e semelhança de Deus, têm responsabilidades: diante da natureza, do semelhante e diante do criador[6]. De modo, que esta singularidade observada na criação do homem e da mulher quer dizer que foram chamados à vida, ao cuidado do que a ela se refere, e a trabalhar em prol da manutenção da obra do Criador.
110. As realizações humanas, assim como suas construções e até mesmo sua procriação, devem contribuir para que este objetivo seja atingido, e dar continuidade à obra de Deus. E tendo em vista esta responsabilidade conferida ao ser humano, é oportuno recolocar uma pergunta que o saudoso Papa João Paulo II inseriu em um de seus escritos, “Todas as conquistas alcançadas até agora, bem como as que estão projetadas pela técnica para o futuro, estão de acordo com o progresso moral e espiritual do homem?”[7]. E suas preocupações ao estender seu olhar para aquele momento histórico, o fez continuar com suas indagações, “Crescem verdadeiramente nos homens, entre os homens, o amor social, o respeito pelos direitos de outrem...ou, pelo contrário, crescem os egoísmos... a tendência para dominar os outros, para além dos próprios e legítimos direitos e méritos, e a tendência para desfrutar de todo o progresso material e técnico-produtivo exclusivamente para o fim de predominar sobre os outros, ou em favor deste ou daquele outro imperialismo?”[8]. Os problemas levantados por estas interrogações se encontram entre os motivos da atual crise ecológica que coloca em risco a vida no planeta.
1.3. A atualidade da advertência aos primeiros pais no paraíso (Gn 3, 1-24)
111. Se por um lado, o progresso científico e econômico, político e social da modernidade trouxe contribuições para o bem da humanidade, de outro introduziu muitas situações que atentam contra a vida em sua dimensão planetária. Pois, os detentores do poder quiseram comer da árvore do bem e do mal, utilizando de modo destrutivo dos bens do planeta, e chegamos ao ponto em que as condições para a vida se encontram seriamente ameaçadas, com o efeito estufa e as mudanças climáticas.
112. Nunca como hoje, os frutos desta árvore da vida se mostraram ao mesmo tempo mais fascinantes e mais ameaçadores. As ameaças não vêm evidentemente das ciências e das tecnologias consideradas em si mesmas. Essas podem se constituir em instrumentos preciosos para se desvendar e melhor usufruir das maravilhas da criação. As ameaças vêm das ideologias e do espírito de dominação que muitas vezes marcam certos segmentos do denominado meio científico, e que pela mídia são assimiladas inclusive pelas multidões que absorvem este espírito através dos inúmeros meios de comunicação. A arrogância e a prepotência transparecem, antes de mais nada, em certas afirmações categóricas feitas em nome das ciências, mas que no fundo não passam de meras hipóteses, ou no máximo de teorias. Enquanto há poucas décadas se presenciava um movimento generalizado de dessacralização, hoje, em pleno século XXI, se percebe um movimento inverso. Em certos setores da sociedade, indo na contramão da história e do princípio básico da cientificidade, a palavra “científico” transformou-se numa espécie de ídolo diante do qual todos devem dobrar os joelhos. Enquanto o princípio da cientificidade aponta para a provisoriedade de todas as conquistas, o cientificismo tende a absolutizar o que, por definição, é relativo e provisório. E, uma vez mais na contramão da história, há grupos que se aproveitam de teorias pretensamente científicas para investir contra a vida e os que defendem sua inviolabilidade desde a concepção até a morte natural.
113. A par da arrogância que transparece no uso e abuso do adjetivo “científico”, causa preocupação a maneira como são anunciadas as promessas de eventuais curas de certas doenças através do avanço das biotecnologias. O tom dessas promessas é tal que levanta sérias dúvidas sobre qual seria de fato o móvel de anúncios sensacionalistas. Seria expressão de uma concepção reducionista e até certo ponto ingênua da complexidade dos mecanismos da vida, mormente da vida humana? Seria a tentação de ocupar destaque na mídia para garantir um lugar de honra no panteon outrora ocupado pelos deuses pagãos? Por trás de tantas promessas não se esconderiam interesses escusos, seja na linha de obter financiamentos públicos para laboratórios privados, ou então até mesmo para usufruir de lucros oriundos da exploração de um povo sofredor? Por trás desta venda de ilusões não se esconderiam até segundas intenções de caráter mais político-ideológico, no sentido de distrair as atenções do povo das verdadeiras causas de seus sofrimentos imediatos e que se localizam nas estruturas econômicas e sociais que impedem uma grande maioria de se beneficiar dos benefícios do progresso?
114. Assim, o apossar-se dos frutos da árvore da vida está significando caminhos para o apossamento das pessoas e da natureza, sem avaliar as consequências deste ato e sem considerar uma justa hierarquia de valores que deve reger as relações das pessoas entre si, com a natureza e com o Criador.
115. Desse modo, este pecado do princípio, é um pecado atual, que permanece aberto e se atualiza, especialmente quando as pessoas se deixam conduzir pelo anseio e desejo de dominação e subjugação do outro, de modo violento, causando destruição e morte, como atualmente no sistema estruturador de nossas sociedades. Este pecado diz que os homens e mulheres quiseram assumir prerrogativas divinas e pela força, dominar o mundo e subjugar os demais seres, em uma guerra social e ecológica que leva inevitavelmente à morte.
116. Quando o ser humano se comporta como Deus, fazendo o que deseja, sem respeitar os limites, ele fica só (constatam que estão nus), não se relaciona de modo justo e edificante com Deus, pois precisa esconder-se dele, ou com seu semelhante, pois acusa a mulher de ser a responsável por seus erros, e nem com os seres vivos da natureza, pois é expulso do paraíso. A desordem surge quando homem e mulher pretendem conhecer o bem e o mal com a intenção de se tornarem divinos (lembremo-nos das palavras da serpente à Eva: de modo algum morrereis, mas sereis como Deus [cf. Gn 3, 5], e assim, dirigir toda criação conforme suas leis e critérios, sem nenhum respeito pelas normas que presidem o justo e solidário relacionamento humano com o universo.
117. Diante de nossas problemáticas com o meio ambiente, se faz oportuna a leitura em chave ecológica da denominada queda dos primeiros pais no paraíso (Gn 3, 1-24). E podemos reconhecer no que Deus disse a Adão e Eva uma advertência com implicações ecológicas: “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não deves comer, porque, no dia em que dela comeres, com certeza morrerás” (Gn 2, 17). A riqueza que os seres humanos têm à disposição se reveste igualmente de um princípio de responsabilidade.
118. Esse enunciado bíblico indica ao homem e à mulher que podem usufruir dos bens do jardim, desde que mantenham a ordem, que é de caráter superior e aponta para a justiça e a solidariedade, dentro da terra em vista da coletividade. A não observância desta advertência implica em morte, o que é atualíssimo. Comer da árvore não recomendada significa que as pessoas se fazem dominadoras e instalam um sistema destruidor, e na condição de senhores e senhoras do bem e do mal, acabam destruindo tudo, inclusive a si mesmos e instalando um conflito no lugar de uma vida solidária.
1.4. O descanso e o sentido autêntico da criação
1.4.1. Consideração sobre o descanso no livro do Gênesis
119. Deus nos dá este mundo para que vivamos numa solidariedade geradora de paz. “No sétimo dia, Deus concluiu toda obra que tinha feito; e no sétimo dia repousou de toda obra que fizera” (Gn 2, 2a). Este dia, o sétimo, se reveste de grande importância no contexto do primeiro relato da criação, pois nele, Deus “concluiu” a sua criação. Desta forma, é no dia chamado de sábado e através dele, que o homem e a mulher vão reconhecer a realidade na qual vivem, como também perceberem-se como criação de Deus. Este dia é chamado de sábado, do qual deriva uma doutrina, que também, ilumina a criação sobre o seu autêntico futuro, pois a abre para a presença da eternidade no tempo, e testemunha o mundo vindouro que está sendo engendrado no hoje.
120. A filosofia moderna criou as bases para o desenvolvimento de uma visão mecanicista da natureza. Através do pensamento de Francis Bacon, desenvolveu o método indutivo que possibilitou a elaboração de princípios gerais das ciências através da associação de elementos particulares observáveis empiricamente. René Descartes trabalhou os conceitos de ideia clara e distinta, que ajudou na observação de fenômenos particulares. Depois estabeleceu a distinção entre a realidade material e a inteligível (res extensa e res cogitans), possibilitando uma mentalidade dualista, que fundamenta o materialismo como consequência da ruptura entre o material e o espiritual e, por fim, desenvolveu o método racional. Galileu Galilei descobriu a órbita dos planetas, que fez com que ele concebesse o universo funcionando como um relógio. Tudo isso contribuiu para uma visão mecanicista do universo, que será desenvolvido até as últimas consequências por Isaac Newton. Nessa visão mecanicista do universo, não há espaço lógico para pensar o descanso da natureza ou para encontrar um lugar na vida humana para a contemplação. Mas não há nada mais estranho ao significado da criação do que o planeta ser entendido como uma espécie de máquina, como na modernidade.
121. Em nossos dias, há muito ficou para segundo plano esta leitura do descanso de Deus, no qual Ele abençoa e santifica a sua obra criada. Damos muito mais valor e sentido à vida do ponto de vista do trabalho e da produção, enquanto que o descanso, a festa, a alegria em viver são desqualificadas como sem serventia e sem sentido. Não é possível entender a criação de modo mais aprofundado, sem perceber o sentido deste repouso. Para as tradições bíblicas estas realidades estão interligadas, pois o repouso é a festa da criação. É em vista desta festa que Deus criou o céu e a terra e tudo o que neles existem. Por isso, na história da criação, sucede-se a cada dia uma noite; o descanso de Deus, no entanto, não conhece noite alguma.
122. Então podemos nos interrogar: o que Deus acrescentou com o descanso às obras da Criação se já a havia concluído no sexto dia? O que ainda faltava para a criação, se já se encontrava acabada? A resposta é o próprio descanso, do qual emergem a bênção e a santificação do sétimo dia, ou seja, Deus conclui a criação com a sua bênção[9]. É do repouso de Deus que emergem a bênção e a santificação do sábado. A obra da criação tem sua conclusão com o descanso do Criador. O Deus que descansa no sétimo dia é o criador que descansa de toda obra que fizera. No dia do repouso, o Criador também se recolhe novamente a si, o que não significa um retorno à existência eterna anterior à criação do mundo e das pessoas, mas deixa de criar e, junto com a sua criação, descansa e a contempla[10].
123. Entretanto, com o descanso, inicia-se a história de Deus com as suas criaturas, com o mundo e do mundo com Deus. Podemos dizer que Deus, não somente descansa de sua criação, mas que este descanso se dá em sua obra, que está diante dele e Ele presente nela[11]. Resulta que no sétimo dia, Deus liga a sua presença eterna com a sua criação transitória, está com ela e nela. Assim, a conclusão da criação se realiza no e com o descanso. A criação se refere à obra de Deus, enquanto o repouso à sua existência presente[12].
124. Pode-se afirmar que a criação revela Deus através de seus seres, mas apenas o repouso é a autorrevelação de Deus. Por isso, as obras da criação desembocam no descanso. No sétimo dia, inicia-se o reino da glória, da esperança e do futuro de todas as criaturas, e o sábado humano, torna-se “sonho de plenitude”[13], dado que esse descanso é indício e antecipação da eterna festa da glória divina. Para que isso seja possível, não podemos dissociar descanso de contemplação do divino, de modo que o descanso aprofunda os relacionamentos entre Criador e criatura e torna-se caminho de santificação e, por isso, o Decálogo exige a santificação do descanso (cf. Ex 20, 8).
125. O próprio Deus mostra o repouso como exigência para a vida humana e para a natureza quanto estabelece o ano sabático e o ano jubilar (cf. Lv 25, 1-22), sendo que o descanso deve ser respeitado não apenas para o ser humano, mas também para toda a natureza. Sem descanso não pode haver nem sequer vida natural de qualidade.
1.4.2. O dia do descanso e a ressurreição de Cristo
126. Nós cristãos entendemos que o sentido original do dia festivo está na celebração da ressurreição de Jesus, fato primordial sobre o qual apoia a nossa fé,[14] ocorrida no domingo. O domingo cristão deve ser visto como a expansão messiânica do sábado de Israel. O domingo, dia festivo cristão, entendido e vivido como o “dia do Senhor” não somente antecipa o descanso do final dos tempos, mas indica o início da nova criação.
127. Segundo a concepção cristã, a nova criação começa com a ressurreição de Cristo[15]. O jardim da ressurreição é o novo jardim do Éden, o lugar da recriação. O casal humano se reencontra num universo que não é o túmulo, mas o jardim, lugar da vida e não da morte. Se o sábado de Israel permite olhar em retrospectiva para as obras da criação de Deus e para o próprio trabalho das pessoas, a festa da ressurreição olha para frente, para o futuro da nova criação. Se o sábado de Israel permite participar do descanso de Deus, a festa cristã da ressurreição permite participar da força que opera a recriação do mundo. Se o sábado de Israel é primordialmente um dia de reflexão e de agradecimento, a festa cristã da ressurreição é primordialmente um dia de início e de esperança.
128. Não é por acaso que o dia da festa da ressurreição é visto pela Igreja como o primeiro dia da semana. Se para Deus, o sábado da criação era o sétimo dia, para as pessoas que haviam sido criadas no sexto dia, o sábado era o primeiro dia que experimentavam.
129. O esquecimento do significado profundo do dia do descanso também proporcionou a estruturação de um mundo sem celebração, de um tempo visto somente pela ótica da produção e do progresso, que gerou desequilíbrios e injustiças. E, dessa forma, prosperou um sistema de produção ancorada na eficiência, crescimento contínuo e na exclusão, com o capital assumindo a função de mantenedor da expansão e voltado para o lucro. Por isso, mesmo neste contexto de crise ambiental, nossa atenção não pode deixar de voltar-se para aqueles ‘descartados’ do sistema produtivo e que passam fome e outras necessidades. Este mundo sem o descanso de Deus, de sua presença, corre o risco de converter-se em fábricas que poluem e de homens e mulheres que atuam em um mercado de trabalho gerador mais de morte, que de vida propriamente.
1.5. O cuidado com a vida e suas fontes
130. Na Bíblia em geral, não encontramos um tratado específico sobre o meio ambiente, mas podemos encontrar algumas indicações preciosas, a partir das quais podemos perceber o respeito que o povo de Israel devia nutrir para com os seres da natureza. Nesse sentido, um dos mais importantes é o livro do Deuteronômio. Nele podemos observar algumas passagens com recomendações expressas sobre o cuidado que as pessoas as quais se dirigia deviam nutrir para com os seres do meio ambiente.
131. É interessante observar que este livro em que se reuniu leis para vários âmbitos referentes à vida dos israelitas, prestou-se para a reorganização da sociedade israelita na metade do século VII a.C, numa fase posterior à dominação da Assíria e procura contrapor-se aos valores e práticas deste povo imperialista da época[16], inclusive no cuidado para com a natureza. Abaixo seguem algumas destas recomendações:
a) Dt 22, 6-7 – nesta passagem, o texto diz explicitamente que se alguém encontrar no caminho, sobre uma árvore ou na terra, uma ave sobre um ninho, com ovos ou filhotes, e tendo necessidade destes alimentos, poderá ficar com os filhotes, mas deverá poupar a ave (“livre deixarás a mãe”). Essa lei nos permite perceber a preocupação com a fonte da vida, com a continuidade do processo de reprodução para que a espécie não venha a se extinguir. A mentalidade imperialista dos assírios não demonstrava esta sensibilidade, conforme é possível perceber na profecia de Isaías contra a Assíria, referindo-se a interferência devastadora da mesma em relação à dominação dos povos e ao saque de seus tesouros: “A minha mão, como em um ninho apanhou a riqueza dos povos... colhi a terra inteira: não houve ninguém que batesse as asas, ninguém que desse um pio” (Is 10, 14). Trata-se de uma ação destrutiva, sem a preocupação com o ciclo da vida, com a integridade da criação. Em virtude de atitude semelhante, temos visto que a vida no planeta se encontra ameaçada.
b) Dt 20, 19-20 – apresenta orientações para situações de batalha, mas não é esquecido o cuidado com a natureza. Nesse sentido, é interessante a indicação para se poupar as árvores produtivas: “quando sitiares uma cidade... não destruas as árvores a golpes de machado; porque poderás comer dos frutos. Não derrubes as árvores. Ou as árvores do campo seriam porventura homens para fugirem de tua presença por ocasião do cerco?” (Dt 20, 19). A permissão para o corte contempla ações contra o inimigo, mas somente em relação às árvores não frutíferas, “as árvores que souberes não frutíferas, poderás destruí-las e derrubá-las para as obras do cerco contra a cidade inimiga” (Dt 20, 20). Essas recomendações são um tanto quanto paradoxais, pois em ação contra uma determinada população, procurava-se poupar árvores que lhe forneciam alimentos para sobreviver. Expressa a distinção básica entre uma árvore e o ser humano e apesar da beligerância do ser humano, deixa uma esperança para uma parte da criação[17]. Mas por outro lado, refreava o desmatamento do lugar, preocupação inexistente às potências imperialistas da época. E, neste sentido, esta preocupação demonstrada no texto é oportuna para o nosso contexto, dado que ainda se constata o prosseguimento de uma das formas mais aviltantes de agressão ao meio ambiente, a devastação de florestas.
c) Dt 23, 13-15 – nesta passagem, existe a indicação para se manter a limpeza do acampamento: “Fora do acampamento terás um lugar onde te possas retirar para as necessidades. Levarás no equipamento uma pá para fazeres uma fossa... Antes de voltar, cobrirás os escrementos.” (Dt 23, 13-14). Aqui aparece a preocupação para com o saneamento em meio ao acampamento do povo, dado importante para as condições de vida daquelas pessoas. Em nossos dias o déficit em saneamento básico é vergonhoso, atinge cerca de 2,5 bilhões de pessoas no mundo. É bom nos atentarmos também, para o fato de que essa situação vai contra a santidade da vida, “teu acampamento deve ser santo, para que o Senhor não veja em ti algo de inconveniente e te volte as costas” (Dt 23, 15b). Diante desse texto, que fala diretamente do saneamento, devemos igualmente pensar na poluição e lixo que inundam nossos rios e matas, ou o nosso ‘acampamento’.
132. Quando o pecado ganha espaço, o prejuízo acaba indo mais longe do que percebemos ou prevemos. Os judeus costumam dizer que Caim não foi responsável só pela morte de Abel, mas por ter tornado impossível a vida de toda uma descendência que viria a partir dos filhos de seu irmão. Nós também, se não cuidamos das fontes da vida e permitirmos a devastação do planeta, estamos negando vida e direitos às gerações que ainda não nasceram. Como partícipes da grande família dos filhos de Deus, temos que zelar por todos os irmãos, os do presente e os do futuro. Esses e outros textos bíblicos nos revelam a compreensão que Israel tinha de que a terra, casa comum, foi criada por Deus, mas entregue aos seres humanos, como um espaço a ser trabalhado e cuidado. Isso não apenas em textos sobre as origens do universo, mas também na literatura sapiencial conforme nos testemunha o Sl 115, 16:“Os céus são os céus do Senhor, mas a terra ele a deu aos filhos de Adão”.
133. Essa pequena reflexão sobre cuidados para com a natureza e meio ambiente a partir do livro do Deuteronômio, certamente nos ajuda a pensarmos e colocarmos em prática, novas atitudes visando à preservação do mundo em que vivemos. Pois é comum, no contexto do atual sistema, em que os bens criados são explorados indiscriminadamente, nos depararmos com atitudes de absoluto descaso para com a natureza, como o mero fato de se jogar papéis no chão ou sacolas plásticas. É urgente a nossa tarefa de construir uma espiritualidade que contribua para que todos os seres possam ser respeitados
1.6. No deserto, uma lição de consumo responsável
134. Deus libertou o seu povo da escravidão no Egito, pois o povo estava morrendo sob a mão forte do Faraó, e, Deus o libertou e o fez caminhar pelo deserto, onde zelou por seu povo. Moisés foi o guia e líder desta caminhada pelo deserto. O povo precisava de comida e recebeu o maná, “Moisés lhes disse: Isto é o pão que o Senhor vos dá para comer” (Ex 16, 15b). Entretanto, havia normas para evitar o desperdício e permitir que todos tivessem o necessário. Cada um só podia recolher o que de fato precisava, “Eis o que o Senhor vos mandou: recolhei a quantia que cada um de vós necessita para comer, um jarro de quatro litros por pessoa” (Ex 16, 16a). O que fosse acumulado a mais apodreceria, “alguns, porém, desobedeceram a Moisés e guardaram o maná para o dia seguinte; mas ele bichou e apodreceu” (Ex 16, 20).
135. Apodrecer é um símbolo das consequências do acúmulo do desnecessário. Quando o ser humano quer bens materiais em excesso, quando acumula, suscita “podridão” para na sua vida, na dos outros e na própria natureza. Deus havia planejado tudo para que a necessidade básica fosse atendida, tanto em relação à alimentação quanto ao descanso. Mas há os ambiciosos, os que querem acumular, ter mais. E o Senhor questiona: até quando recusareis guardar meus mandamentos e minhas leis? (Ex 16, 28). Se esse texto tivesse sido escrito hoje, provavelmente Deus perguntaria: até quando vocês vão desprezar a natureza, pela ambição de acumular e gastar, e assim, apodrecer o planeta irresponsavelmente?
136. Essa lição da caminhada do povo pelo deserto é interessante para a dinâmica de nossa sociedade e para cada um de nós pessoalmente. Segundo os estudiosos, hoje já gastamos recursos do planeta que ultrapassam a sua capacidade de se manter sustentável. Fala-se em 25% a mais em relação ao seu limite. O sistema capitalista atual e o modo de vida que vem sendo difundido são altamente consumistas e desperdiçadores. As pessoas querem acumular coisas e capital para além do que é realmente essencial à satisfação das suas necessidades, e se deliciam, inclusive com as coisas supérfluas.
1.7. Entrando na terra prometida
137. A terra é repartida de modo a evitar a concentração de bens, e consequentemente de poder, “Entre estes se repartirá a terra em herança, de modo proporcional ao número de pessoas” (Nm 26, 53). É fácil ver que o objetivo é o bem comum, não o enriquecimento dos mais afoitos. Mas a terra, mesmo assim distribuída, não é objeto de posse absoluta, sem restrições. A terra continua sendo de Deus, para ser usada de modo responsável.
138. Nesse sentido, a doutrina do descanso é primordial, pois, além de prescrever o descanso individual no sábado, prevê também um descanso da terra na instituição do ano sabático, que deveria acontecer de sete em sete anos (Ex 23, 10-11). E a lei do descanso não parava por aí, indicava também um ano jubilar (a cada cinquenta anos), no qual a terra deveria voltar às famílias que originalmente as ocuparam, demonstrando assim, que a terra deveria ser usada segundo o desejo de seu legítimo dono, que é Deus. Diz o Senhor: “As terras não se venderão a título definitivo, porque a terra é minha, e vós sois estrangeiros e meus agregados” (Lv 25, 23). A intenção aí é cuidar da justiça social, impedindo que os empobrecidos percam tudo. Mas hoje perdemos esta perspectiva de que a terra, em última análise é de Deus, e existe grandes acumulações nas mãos de poucos, o que resulta em expulsão de uma grande massa de pessoas nascidas neste ambiente para a periferia das cidades, onde nem sempre conseguem se refazer, tudo em nome da ganância e do lucro.
139. A Bíblia nos apresenta outra proposta, que diverge das concepções atuais de nosso sistema econômico liberal, que tem na propriedade privada um de seus alicerces, e se encontra em uma fase altamente concentradora. Esse fenômeno se dá em virtude da concorrência do mercado, no qual, quanto mais capital alguém dispuser e maior for a capacidade produtiva e a distributiva, mais condições de sobrevivência e lucro terá. No entanto, esta lógica é excludente, exclui a grande maioria, gerando sofrimento e morte. Portanto, aqui temos duas bases para se edificar a sociedade: uma em que os bens estão a serviço das pessoas e outra em que as pessoas recebem um tratamento secundário e chegam até mesmo a serem excluídas.
1.8. Jesus vence tentações
140. O tentador diz a Jesus depois de quarenta dias de jejum, “Se és filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães” (Mt 4, 3). Ele rejeita essa tentação, pois ceder significaria mudar a finalidade da natureza em benefício próprio, sem respeitá-la. Hoje vemos que o “o rolo compressor do capitalismo deixa de lado qualquer tipo de consideração de cunho afetivo e espiritual. Ele prima pelo objetivismo, ou seja, transforma em mercadoria não apenas a matéria, como também os seres vivos, inclusive os humanos”[18]. A natureza não pode ser toda transformada para servir ao nosso consumo e ao lucro, sem outras considerações. Vendo o “pão” como símbolo de bens materiais de toda espécie, temos que ver aí também um convite para se resistir à tentação de transformar tudo em objeto de consumo, para que tenhamos condições de aprofundar o nosso em relação aos seres os seus autênticos valores.
141. Outro problema bem visível em nosso tempo é o desejo de transformar o próprio Deus em um mágico protetor que garante a prosperidade de seus devotos, o que podemos relacionar com a segunda das tentações de Jesus. “Então o diabo o levou à Cidade Santa, e o colocou sobre o pináculo do Templo e disse-lhe: Se és filho de Deus, atira-te daqui abaixo! Pois está escrito: ‘Ele dará ordens a seus anjos a teu respeito, e eles te carregarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’” (Mt 4, 5-6). A tentação de usar Deus em benefício próprio é muito arraigada na religiosidade que se difunde no contexto de nossa sociedade consumista. Em vez de servir a Deus, com tudo o que isso implica, muitas pessoas querem que Deus esteja ao seu serviço para satisfazer desejos e ambições individuais. Usa-se o nome de Deus até para pedir coisas que o próprio Deus, certamente, não aprova, querendo sucesso em tudo, mesmo quando esse “tudo” desrespeita o direito alheio ou quer justificar fontes de lucro que agridem o planeta.
142. A última tentação resume bem o perigo que estamos querendo denunciar: “O diabo o levou ainda para uma montanha. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua riqueza, e lhe disse: ‘Eu te darei tudo isso, se caíres de joelhos para me adorar’” (Mt 4, 8). Diante dessa tentação devemos nos lembrar que, “a própria fé na criação, aquela que informando ao homem sobre a soberania absoluta do Criador, estabelece limites ao senhorio humano sobre a terra”[19]. E, quando este limite ao senhorio humano é infringido, ocorre um processo de degradação da vida como expressa este profeta dizendo, “o país está abatido e seus cidadãos estão murchos. Os animais silvestres, as aves do céu e até os peixes do mar estão desaparecendo” (Os 4, 3). E, ainda vemos em outra passagem da literatura profética, na qual se fala das consequências do rompimento da aliança com Deus, “a terra ficará mesmo vazia, saqueada de ponta a ponta... o mundo definha... A terra foi poluída sob os pés dos moradores, pois passaram por cima das leis” (Is 24, 3-5). Na literatura paulina, podemos ver um veredito que resume o sofrer da criação pelas atitudes do homem ao sucumbir à tentação acima, “a criação foi sujeita ao que é vão e ilusório... por dependência daquele que a sujeitou” (Rm 8, 20).
1.9. O que pode nos afastar de Deus
143. No livro dos Provérbios (Pr 30, 7-9) vemos que o sábio reza para que tenha o suficiente para viver e não mais. Para que não caia em outro tipo de tentação, pede: “concede-me apenas minha porção de alimento. Isto para que, estando farto, eu não seja tentado a renegar-te e comece a dizer: ‘Quem é o Senhor?’” (Pr 30, 8b-9a). Jesus vai falar muitas vezes da escolha que precisa ser feita: é Deus ou o dinheiro que manda em nossa vida? Esse tema já foi abordado na Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2010, ocasião em que lembrávamos com energia que não se pode servir a Deus e ao dinheiro. Jesus manda dar mais valor aos tesouros do céu, que certamente incluem responsabilidade pela vida e pelo outro, capacidade de defender o que é certo em vez da simples acomodação que pode nos tornar cúmplices do erro. É preciso identificar o que, para nós, é realmente um valor prioritário. Jesus disse: “onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” (Mt 6, 21) Se o nosso coração estiver em Deus estará também na defesa da natureza, no uso responsável dos dons que o Criador nos deu.
1.10. A voz de Deus na natureza
144. Mesmo antes de inspirar a escrita dos textos bíblicos, Deus se comunicou com a humanidade através do livro da natureza, da diversidade da vida, da riqueza de tudo que forma o mundo em que vivemos. Seria uma falsidade louvar o Criador e não se importar com o atual processo de destruição de suas obras no âmbito da criação. Porém, uma espiritualidade de contemplação e deslumbramento diante das maravilhas da natureza é parte importante da construção da nossa vida religiosa.
145. Diversos textos bíblicos trazem um louvor à criação, vendo nas manifestações da natureza sinais da sabedoria, do poder, da grandeza do Criador. Esses textos nascidos da fé e, em forma poética, convidam-nos a contemplar com olhos amorosos a criação de Deus. Temos, por exemplo:
a) o cântico de Misael, Ananias e Azarias em Dn 3, 57-87 – Esses três jovens aparecem também com o nome babilônico: Sidrac, Misac e Abdênago. Eles foram lançados na fornalha ardente, por causa de sua fidelidade a Deus. No entanto, um anjo do Senhor é enviado para lançar um orvalho refrescante e não permite que as chamas lhes façam nenhum mal. No meio das chamas, os três jovens entoam um louvor ao Senhor, a partir das obras da criação.
b) O salmo 8, que fala do lugar do ser humano na criação. O salmo 8 foi muitas vezes entendido equivocadamente como justificação religiosa para o “domínio” do ser humano, “rei da criação”, sobre a natureza. No entanto, este salmo expressa o lugar que o humano ocupa no conjunto da criação. Se o apresenta acima de todas as criaturas (Cf. Gn 1), não quer com isso lhe dar um direito de domínio predatório sobre a natureza, mas sugere um cuidado responsável para com ela, na função de zelador da obra de Deus. Sobre isso, poderíamos lembrar também a fala de Jesus: “A quem muito foi confiado, dele será exigido muito mais” (Lc 12, 48). O ser humano, que raciocina, toma decisões e pode transformar o planeta, precisa escolher com responsabilidade o que faz ou o que deixa acontecer por omissão.
c) O esplendor da criação (Sl 104). Este salmo está entre os mais belos do saltério; como um hino à natureza, expressa poeticamente a dimensão de Deus como Senhor e Criador. O salmo estabelece uma inter-relação de Deus com as criaturas, evidenciando a consciência que tinham os antigos israelitas da profunda dependência vital da humanidade e de todo o criado em relação ao poder criador originário. Se Deus retira seu ruah (= espírito de vida, v. 29-32), as coisas voltam ao seu nada. Desse modo, a criação é pensada, neste salmo, em termos de uma grandiosa e incessante troca de energias[20].

Fonte: Texto Base da CF 2011


[1] Pontifício Conselho Justiça e Paz. Compêndio de Doutrina Social da Igreja. Paulinas, 2009, n. 488
[2] Cf. Xavier PIKAZA. Biblia y ecologia: reflexión introductoria sobre o Gn 1-8. In Sustentabilidade da vida e espiritualidade. (Soter) Ed Paulinas, São Paulo, 2008, p. 05.
[3] Ludovico GARMUS, Bíblia e Ecologia, Grande Sinal, maio/junho, 1992, Ano 46, N° 3, p. 278.
[4] GS 12.
[5] IDEM.
[6] Ludovico GARMUS, p. 280.
[7] Redemptor Hominis 15.
[8] Idem.
[9] Cf. Jurgen MOLTMANN, Deus na Criação. Petrópolis, Ed. Vozes, 1993, p. 396-397.
[10] Cf. Jurgen MOLTMANN, p. 396-397.
[11] Cf. Jurgen MOLTMANN, p. 398.
[12] Cf. Dies D 61.
[13] Cf. Franz ROSENZWEIG, In Jurgen Moltmann, op cit, p. 399.
[14] Cf. Idem 2.
[15] Cf. Idem, 25.
[16] Haroldo REIMER, In Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana. Petrópolis, 2001, N° 39, p.[189] 37.
[17] Haroldo REIMER, p. 42 [194]
[18] Antônio MOSER. Cuidando da Terra: ética do cuidado. In REB Fasc. 273 – Janeiro – 2009, p. 133.
[19] Cf. Ruiz da la Peña. Teologia da Criação. São Paulo: Loyola, 1989, p.159.
[20] Cf. Ruiz da la Peña. Teologia da Criação. São Paulo: Loyola, 1989, p.159.

Comentários

  1. Maaaaaano preciso de APONTAMENTOS BIBLICOS diretos pra um trabalho!!
    Exemplo:
    Tem esse esse esse este etc etc

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