CREIO EM JESUS CRUCIFICADO, MORTO E SEPULTADO


O Verbo Divino verdadeiramente se fez carne. Tornou-se homem, assumindo tudo aquilo que o ser humano é. Deus se fez pessoa humana, e isto é uma atitude de humilhação, de rebaixamento, de kênosis. Pois bem, o ponto máximo da kênosis está situado na Cruz de Cristo. Ao encarnar-se, Deus faz-se “menor”, humilha-se a si mesmo e, tal “auto-humilhação de Deus completa-se na Paixão e na morte de Jesus, o Filho”.
O fato de aceitar assumir a condição humana já caracteriza o abaixamento de Deus. Aceitar limitar-se à nossa natureza, desde o ser gestado no ventre de uma mulher até o deparar-se com o limite da vida na morte é dispor-se a tornar-se “menor”. E maior ainda o aniquilamento quando a morte, que faz parte da natureza humana, é imposta a Deus da forma mais injusta e indigna e, mesmo assim, ele a assume sem “abrir a boca” (cf. Is 53,7).
A cruz, no contexto da época em que Deus fez-se homem em Jesus de Nazaré, servia para a execução de criminosos. A morte na cruz era o mais cruel e vergonhoso castigo aplicado. A crucifixão era o fim (físico) do condenado, do criminoso. Deus foi condenado à morte como um criminoso. Não pode haver maior humilhação. O Criador, no qual todas as coisas têm seu princípio, que agiu livremente e por amor ao criar tudo aquilo que não existia, o mundo e todos os seres, foi rejeitado e condenado pela própria criatura que ama. No alto da cruz o auto-aniquilamento atinge o ápice. “Jesus é um Deus que morre... Morre porque o matam... com toda a solenidade jurídica de um processo público no qual ele é declarado réu de delitos religiosos e políticos”.
No entanto, só é capaz de aniquilar-se ao extremo aquele que ao extremo ama. Não com uma paixão desenfreada, projeção de um “amor” egoísta; não uma emoção desequilibrada ou uma espécie de “amor” suicida. Mas um amor libertador, que não exige nada do outro, que se doa gratuitamente e permite que flua naturalmente no coração do amado também o desejo de amar. Amor que não força ninguém e nada impõe; no máximo propõe. Amor que, mesmo diante do sofrimento do “eu”, traz consigo a tranqüilidade da luta pela felicidade do “tu”.
No sofrimento e na morte, a humanidade de Jesus se tornou instrumento livre e perfeito de seu amor divino, que quer a salvação dos homens”. Em Jesus de Nazaré, a majestade divina se apresenta humilde e fraca, pequena e impotente, porém, altamente onipotente no amor, mesmo porque “a onipotência de Deus consiste em poder superar tudo, não em poder evitar tudo”, razão pela qual Deus se abaixa solidarizando-se com a nossa fraqueza. “Dessa vivência solidária das situações-limite não podia ficar excluída a mais incisiva, a morte, que não é mero epílogo acidental da vida, acontecimento deslocado em sua periferia, mas o horizonte para o qual progride reflexamente tal vida”. O fato é que “Jesus viveu, literalmente, desvivendo por seu próximo; o ato de morrer-por é desembocadura do viver-por”.
Na cruz, Jesus é vítima da falta de reciprocidade, por parte dos seres humanos, ao amor anunciado e vivido por ele durante toda a sua existência terrestre. Deus é vítima da liberdade que deu aos homens ao criá-los. A humilhação do Filho foi tão grande, a ponto de sentir-se, no extremo de sua angústia, abandonado pelo Pai (cf. Mc 15,34). Nesta experiência reside o ponto mais profundo de sua humilhação.
E a cruz, com Jesus, toma um novo sentido: sentido de salvação. Da extrema humilhação, da atitude absolutamente kenótica de Jesus, surge a glorificação. A cruz, sinal de castigo, uma vez tendo sido assumida por Cristo, tem todo o castigo dissipado. Agora a cruz é sinal de graça, de perdão, de total doação, de salvação. O madeiro da maldição torna-se trono da salvação.
Infelizmente, hoje, muitos ainda são promotores de cruzes não redimidas, de cruzes ainda de maldição. Promotores de mortes e violência, exploração e opressão. Muitos, por sua vez, estão sendo “cravados” inocentemente no madeiro para serem tratados como malditos. “Milhões e milhões das classes subjugadas continuam sendo crucificados com salários de fome, em condições de trabalho que lhes encurtam a vida e em situações higiênicas que produzem a morte... Outras pessoas penam sob a cruz da discriminação pelo fato de serem mulheres, doentes, pobres, negros, homossexuais... e outras formas de exclusão e morte social.” Tudo isto acontece, como resultado da dureza do coração do homem, mesmo tendo o Filho de Deus, no extremo de seu abaixamento tomado sobre si todas as maldições, convertendo a cruz em sinal de vida e salvação.
E, “se o Filho não fosse Deus, Cruz e ressurreição seriam acontecimentos humanos como tantos outros, e não o lugar da salvação, a porta do mundo para a vida divina e da vida divina para nós”. Mas o Filho é Deus, com o Pai e o Espírito Santo, e quer nos ensinar que “é preciso que o cristão saiba dizer que não se salva o homem matando-o, mas morrendo por ele”.

Pe. Ademir Nunes Farias

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