São necessários jornalistas cristãos nos meios de comunicação


Entrevista com o cardeal Carlos Amigo Vallejo
Por Gilberto Hernández

SEVILLA, sexta-feira, 29 de janeiro de 2010 (ZENIT.org-El Observador).- 24 de janeiro foi dia de São Francisco de Sales, santo padroeiro dos jornalistas. Na mensagem do Papa que guia a reflexão da Jornada Mundial das Comunicações Sociais – divulgada nesse dia –, o Papa Bento XVI propôs refletir sobre "O sacerdote e a pastoral no mundo digital".
Nesse contexto, o cardeal Carlos Amigo Vallejo, OFM, arcebispo emérito de Sevilla, conversou com ZENIT-EL Observador sobre o tema dos meios de comunicação, particularmente sobre o jornalista católico e sua importância para a Igreja.

–Falamos do jornalista sem adjetivos. Qual diagnóstico tem do que se faz hoje em dia?
–Cardeal Amigo: Não é fácil fazer um diagnóstico, e não só pela diversidade e variedade, sim pela mensagem heterogênea que se quer fazer chegar. No geral, pode-se dizer que o grande mérito do jornalismo atual é ter de se desenvolver com liberdade em meio de muitas condições ideológicas, empresariais, políticas, de grupos de pressão... No entanto, não deixa de se notar certa subserviência à ideologia, ao desejo de ganância e de controle político, às rivalidades e conflitos entre grupos. O que conduz que a verdade apareça de uma maneira parcial e o sensacionalismo distorça os fatos.
–A Igreja, com sua mensagem de novidade do Evangelho, suas ações a favor dos pobres, testemunho de amor e esperança, não parece atrativa para os meios de comunicação; maximizam-se as notas que acarretam o descrédito. O que o senhor tem a dizer sobre essa situação, o tratamento da Igreja pelos meios de comunicação?
–Cardeal Amigo: Estamos diante de dois extremos. Por um lado, a vida e a atividade da Igreja é desconhecida. Mas, por outro, surpreende que aqueles meios que se declaram abertamente defensores da desaparição do religioso na vida pública e social são aqueles que mais tempo dedicam às notícias referidas à Igreja, sempre, como era de se esperar, com uma versão interessadamente negativa.
O tratamento que estes meios dão, por exemplo, às intervenções do Santo Padre, são marcadas pelo preconceito e pelo desejo de desqualificação de Bento XVI. As palavras são tiradas do contexto e, certamente, ninguém leu o texto original dado pelo Santo Padre, nem teve nenhum cuidado em analisá-lo corretamente. Com ocasião ou sem ela, deve ser dito que o Papa está errado.
–Parece adequada a batalha travada pelos meios de comunicação católicos no esforço de levar o Evangelho, a voz do Papa e dos pastores?
–Cardeal Amigo: Não somente isso me parece adequado, mas sim necessário e até imprescindível. Em primeiro lugar, com um sentido de ajuda ao conhecimento da verdade, a formação de critérios objetivos, a difusão da mensagem de Cristo e a voz do Magistério da Igreja, sobre tudo a do Santo Padre.
O jornalismo católico pode ser uma verdadeira consciência crítica, o que é muito positivo e ajuda a conhecer a busca da verdade objetiva. Agora, não esperemos que uma atitude tão nobre vá passar desapercebida. Os obstáculos, a ridicularização e o interesse por silenciar a voz da Igreja e de seus meios aparecerá em seguida.
–A quem deve se dirigir esse esforço de comunicação: ao interior da Igreja ou fora dela, ao mundo laico?
–Cardeal Amigo: Tem-se de levar a todos os ambientes. Os media são muito diferentes, desde as modestas folhas paroquiais até as grandes redes de comunicação. A Igreja tem de chegar a todos. Não é fácil. Mas são muitos os exemplos que podemos dizer, que está se tornando plausível uma tentativa de atingir os mais diversos ambientes públicos e sociais.
–Podemos falar realmente de um jornalismo católico? Quais características deve ter?
–Cardeal Amigo: Dizia um famoso comunicador, que foi o cardeal Herrera Oria, que um jornal católico tinha de ser primeiro um bom jornal, ou seja, um meio de comunicação bom sob o ponto de vista técnico. Isso significa levar a notícia de forma objetiva e fiél à Doutrina Social da Igreja na argumentação.
As características da atuação do católico nos meios de comunicação seriam as que, em mais de uma ocasião, expressa o Magistério da Igreja: informação verdadeira, respeito às leis morais, ter em mente a que as pessoa e a comunidade são o fim e a medida do uso dos meios de comunicação social.
–Na sua opinião qual deve ser o perfil de um autêntico comunicador católico?
–Cardeal Amigo: Se o jornalista se confessa católico, essa condição não deve limitar a liberdade de expressão e o direito à informação, e sim deve ser uma garantia de profissionalismo.
São necessários cristãos profissionais nos media, e também meios de comunicação própios para poder dizer nossa palavra em uma sociedade democrática, aberta e pluralista. Ao mesmo tempo que se pensa dessa forma, nem sempre existe um autêntico interesse por levar adiante essa missão. E mais, não é encontrado o apoio necessário para levar adiante esse trabalho apostólico. Os fiéis contribuem generosamente a manter as obras caritativas e assistenciais que realiza a Igreja. Mas não há consciência de que a Igreja também tem de pregar o Evangelho através dos diferentes meios de comunicação.

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