A URGÊNCIA DA UNIDADE


A distinção não é, de forma alguma, sinônimo de conflito nem de divisão. Ser diferente não significa ser melhor ou pior, ser mais ou menos bom, ter crédito ou descrédito com relação a outro. A distinção não impede a unidade. Ser diferente não é, em si, um obstáculo real posto à unidade. Pelo contrário, ser diferente é, muitas vezes, um caminho enriquecedor, de mútuo aprendizado e mútua cooperação.
Estar separado ou em oposição àqueles que têm por natureza o mesmo objetivo, o mesmo horizonte, a mesma esperança, isto sim é triste, doloroso, contraditório. Aliás, o Concílio Vaticano II afirmou isso de forma muito contundente, dizendo que a “divisão contradiz abertamente a vontade de Cristo, e é escândalo para o mundo, como também prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho a toda criatura” (Concílio Vaticano II, Unitatis Redintegratio (UR), 1, in Documentos do Concílio Vaticano II: Documentos da Igreja 1, Paulus, 1997). Ou seja, ser diverso pode ser bom e necessário; já ser dividido será sempre uma contradição e uma barreira que impede a realização do projeto salvador de Deus para toda a humanidade.
Na sua visita ao Brasil, em Maio de 2007, o Papa Bento XVI não deixou de falar sobre esta urgência da busca da verdadeira unidade entre os irmãos de denominações cristãs diversas, que é critério para que o Evangelho não caia em descrédito. No seu discurso aos bispos católicos do Brasil em 11 de Maio, o Papa pontuou: “O Ecumenismo, ou seja, a busca da unidade dos cristãos torna-se nesse nosso tempo, no qual se verifica o encontro das culturas e o desafio do secularismo, uma tarefa sempre mais urgente da Igreja católica”.
O Pontífice, por sua vez, como profeta que é, não fez vistas grossas a realidade da multiplicação de grupos e até comunidades que se impõem pelos “exclusivismos” e pelo proselitismo, dificultando a caminhada ecumênica. Assim disse o Papa: “Com a multiplicação, porém, de sempre novas denominações cristãs e, sobretudo diante de certas formas de proselitismo, frequentemente agressivo, o empenho ecumênico torna-se uma tarefa complexa”. E acrescenta: “Em tal contexto é indispensável uma boa formação histórica e doutrinal, que habilite ao necessário discernimento e ajude a entender a identidade específica de cada uma das comunidades, os elementos que dividem e aqueles que ajudam no caminho de construção da unidade. O grande campo comum de colaboração deveria ser a defesa dos fundamentais valores morais, transmitidos pela tradição bíblica, contra a sua destruição numa cultura relativística e consumista; mais ainda, a fé em Deus criador e em Jesus Cristo, seu Filho encarnado. Além do mais vale sempre o princípio do amor fraterno e da busca de compreensão e de proximidade mútuas”.
É claro, que o Papa não deixou de chamar a atenção com relação aos irmãos católicos que se encontram frios na fé e advertiu quanto a necessidade de se “encaminhar a atividade apostólica como uma verdadeira missão dentro do rebanho que constitui a Igreja Católica no Brasil, promovendo uma evangelização metódica e capilar em vista de uma adesão pessoal e comunitária a Cristo. Trata-se efetivamente de não poupar esforços na busca dos católicos afastados e daqueles que pouco ou nada conhecem sobre Jesus Cristo, através de uma pastoral da acolhida que os ajude a sentir a Igreja como lugar privilegiado do encontro com Deus e mediante um itinerário catequético permanente”.
Reafirmando a identidade da fé Católica, que condena todo o indiferentismo e relativismo cego, o Papa deixou aos católicos o incentivo sempre maior, para que se lancem no caminho da unidade, conscientes de sua identidade e não abrindo mão dela por nada, porém, numa atitude de acolhida, respeito, amor fraterno e aprendizado junto aos irmãos e às irmãs de outras denominações, no desejo de ser fiéis ao mandamento do Senhor Jesus: “Que todos sejam um, para que o mundo creia” (Jo 17,21).

Pe. Ademir Nunes Farias

Comentários

  1. Reverendíssimo Pe. Ademiar, Laudetur Iesus Christus! Como o senhor vem acompanhando as atitudes do Santo Padre diante dos "tradicionalistas"? Primeiro, a publicação do motu proprio Summorum Pontificum que permite a livre celebração por qualquer padre da missa anterior à reforma litúrgica; agora, o levantamento das excomunhões dos bispos sagrados pelo Arcebispo Lefebvre.

    Ontem a Secretaria de Estado da Santa Sé lançou uma nota sobre o assunto que termina com os seguintes termos: "Cresça o empenho dos Pastores e de todos os fiéis no sustento da delicada e difícil tarefa do Sucessor do Apóstolo Pedro como o “guardião da unidade” na Igreja."

    O senhor não crê numa certa omissão do restante do episcopado quanto a este assunto?

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